sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Testamento amoroso
As lágrimas, se escaparem, liberem-nas no jardim para que possam estimular as flores, beleza máxima da vida com sua forma e não-forma (cheiro). Como amo as flores.
Quando eu morrer, só quero poesia.
As lamentações não são justas com a dádiva da vida, essa oportunidade máxima de prática cotidiana e evolução espiritual de nossa mente-coração. Como amo a vida.
Quando eu morrer, só quero 'até logo'.
O 'adeus' torna o tempo ao reencontro demasiadamente longo e não há tempo e espaço entre os portões da vida - nascimento e morte - que tornam difícil a tarefa do Amor de reunir os que são afim. Como amo vocês.
Quando eu morrer, leve meu Amor à todos, sem exceção. Nada mais tenho senão o melhor de mim para d(o)ar. Como Amo.
Escrito no natal de 2008 sob inspiração da passagem de meu Opa, reflexões sobre minha própria morte e sensação de ressurreição. Que todos possam se beneficiar.
No Amor,
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Três Coroas para um só coração
As bênçãos eram inúmeras e claras: afinal, parou de chover um dia antes e voltou a chover um dia depois das cerimônias. No ápice do ritual de consagração até as bandeiras pararam de tremular: no topo da montanha onde sempre venta, imaginem, o vento havia parado para se curvar em homenagem. O Sol, astro-rei, literalmente coroava o céu acima e nós abaixo.
É o poder de muita meditação e mantras, com grande enfoque no Buda da Compaixão, Cherenzig, sempre acompanhados pela canção de belos pássaros.
Eis que em um belo entardecer, entre os inúmeros que presenciamos, minha lente capturou esta amorosa emanação do Sol que nos aquece, nutre de vida e envolve de Amor.
Essa é a moral da história: quando entramos em contato com nosso Eu interior e em sintonia com a natureza ao nosso redor, o Amor é o elo de ligação e destino final dessa jornada que é a vida, que em si nada mais é que o exercício de Amar e assim a alma cultivar.
OM Amor,
sábado, 20 de dezembro de 2008
A real fábula kafkaniana da barata e do amor, a aplicação prática das quatro incomensuráveis budistas
Então solicitei que minha mãe fizesse o macarrão ao funghi ao invés do macarrão ao camarão, bem como evitei os encontros no japonês e na temakeria.
Quando à noite tomava meu banho fui confrontado com uma situação kafkaniana: uma barata me observava audaciosamente perto de meus utensílios de higiene, tais como escova-de-dente, barbeador e demais apetrechos masculinos.
A primeira reação, por mais que tenha sido apenas um lampejo, foi a óbvia e habitual reação egóica de revolta por um bicho ligado comumente à sujeira estar perto de minha higiene pessoal.
Sentença: a m... não, peraí! Não poderia lhe desejar a morte. Não poderia esmagá-la assim, sem mais, nem menos. Havia feito votos de não matar seres em meu aniversário - ao menos não deliberadamente, pois andando na rua vitimizamos insetos suficientes para ainda o fazermos de maneira assim, cruelmente premeditada.
Contemplei. A barata. Meu voto. A situação.
Constatei que não havia diferença entre a barata e o camarão - inclusive são iguarias igualmente apreciadas em certos recantos do mundo.
Constatei ainda que o revisteiro abaixo da pia estava com jornais velhos, bagunçado e servia de refúgio para seres como aquela barata que tanto me fazia confrontar com velhos hábitos: não optamos todos pela saída mais cômoda, por permanecermos em nossa zona de conforto?
Tentei tirá-la, mas na primeira tentativa ela caprichosamente correu para debaixo e para dentro do tal revisteiro, que na verdade havia percebido somente naquele momento de sua fuga.
O pensamento de 'f.d.p., olha a trabalheira que está me dando' rápida, gentil e compassivamente cedeu vez para um agradecimento genuíno pela possibilidade e incentivo para organizar e limpar o revisteiro; basta mudarmos nossos paradigmas e tentar enxergar por uma ótica amorosa, de eterno aprendizado e benefício contínuo.
Dito e feito. Foi tirar o último exemplar que ela apareceu e ficou imóvel. Levei o revisteiro até a janela. Bati forte e ela caiu para fora. Mas não é que a danada voltou e parou me encarando?
Retribui o olhar, dizendo a ela que ela estava indo para o lado errado, que desse meia volta e fosse para fora. Prontamente ela se virou e seguiu seu caminho para o mundo, como se tendo apenas voltado para agradecer.
Ao retirar o revisteiro, devo ter batido no cifão da pia, pois pela manhã havia uma mancha na bolsa de minha máquina de raspar cabelo. O formato, imaginem: um perfeito coração.
Incrível do que a força do amor e da compaixão são capazes, não?
Depois disso fui visitado mais uma vez por uma barata que foi facilmente conduzida para fora sem retornar.
Adendo: minha relação com os mosquitos segue o mesmo caminho. Não os mato mais há um bom tempo, mas combato sim os possíveis focos de surgimento. Ah sim, não costumo ter uma mordida de mosquito!
Moral da história
Através do amor podemos não apenas entender o outro, o diferente, como também respeitá-lo e respeitar nossa natureza, fazendo com que nossas ações sejam construtivas de fato e em todos os sentidos.
Atuando com amor, preservamos os espaços e melhoramos não apenas a vida alheia, mas principalmente a nossa vida. Passamos a condenar menos os outros e também menos a nós mesmos, nos ofertando a possibilidade e o espaço para transcendermos e, ao passar pela zona de conforto de maneira amorosa, organizar e limpar recantos de nosso ser que acumulavam poeira e ficavam à sombra de nosso brilho, por muito tirando-nos nossa leveza e alegria de viver.
Às vezes, algo aparentemente negativo pode ser trabalhado como suporte positivo, basta termos calma para não sermos reativos/raivosos a partir de nosso ego e sim agirmos amorosamente com a plenitude de nosso ser.
O importante é sempre questionarmos se não poderiamos fazer, mesmo e principalmente as coisas mais simples e banais, de maneira diferente. No mínimo, faz-se necessário pensar diferente e questionar nossa maneira de ver e lidar com o mundo - os atos serão conseqüência dessa reflexão.
A receita budista para cultivar o amor é se trabalhar a equanimidade, conquistada por sua vez pela renúncia ao dualismo e a diferenciação; pela intenção de praticar o bem e que todos sejam afortunados - bodhicitta; pela realização da vacuidade, de que todos os fenônemos são vazios de existência e sim determinados por sua posição no tempo, espaço e relação interdependente; e, por fim, da aceitação da inexistência de um Eu, que igualmente é dependente do tempo, espaço e de suas relações.
Assim se cultiva o amor, que leva à compaixão e, por fim, ao regozijo.
Quando se sente a felicidade verdadeira de ver um ser livre, mesmo que momentaneamente como no caso da barata, de vê-lo feliz e sentir-se feliz pelo outro, isto é o ápice de nossa existência e potencializa essa coordenada no tempo, espaço e relação/conhecimento que chamamos de Eu - uma parte ínfama da grande rede que é a vida.
Depois de experimentar o prazer que é sentir prazer pelo prazer do outro, passa-se a querer trabalhar incessantemente para que esta felicidade seja genuína e imutável, ou seja, que esse ser também se liberte - porque nesse momento, você já estará liberto, já terá despertado.
É o Amor que desperta, eterniza e faz esse pontinho brilhar.
Aproveito para agradecer ao monge Gabriel pelos preciosos ensinamentos sobre as quatro qualidades incomensuráveis.
No Amor,
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Amor, vida, diferença
No Amor,
Amor, vida, movimento
Amar é compreender a alternância e o movimento como um Todo, que por mais que se ame o dia e o sol, não tem como não se amar a noite e a lua, pois um define, dá forma e completa o outro - como o amor o faz com dois indivíduos, seres distintos que se unem por amor e assim se completam, quer seja sexualmente, corporativamente, intelectualmente: é a união de não-iguais, pois nada é igual.
E a capacidade de cooperação é este amor que viabiliza unir dia e noite, homem e mulher e tantos outros elementos distintos, mas amorosamente convergentes: com sabedoria, tudo converge ao equilíbrio (através do amor, sabedoria-mor).
Amar é viver plenamente tanto o dia quanto a noite, o nascimento quanto a morte, é viver a plenitude da possibilidade de cada momento - máximo dentro de cada limitação -, é viver na plenitude da graça divina o seu destino com toda sua vontade, pois amar é pleno.
Amar é estar aberto ao segundo seguinte, ao próximo ciclo, ao novo, ao outro, ao momento de renovação - sem se cansar do momento presente, vivendo-o plenamente.
No Amor, a plenitude do Ser, pois quem ama não sente medo, não sente inveja, não sente nada além de boas vibrações e um sentimento de pertencimento a algo maior, pois o religare (reunião) foi (re)estabelecido com o Todo,
Amor - não isolamento
No Amor,
Amor - enzima catalisadora do Ser
Amor, enzima que criptonita alguma pode enfraquecer, que força alguma pode deter.
No Amor,
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Amor - continuum da mente-coração
Se nós reconhecemos esta continuidade, não confiamos em circunstâncias temporárias, tangíveis, ou não as levamos tão a sério.
Se nós acreditamos na continuidade da mente, então o amor nos conecta imperceptivelmente àqueles que nós amamos com uma energia positiva contínua, de modo que mesmo separações tangíveis entre pessoas que se amam, não reduzem o poder intangível do amor.
Ao acreditar na continuidade da mente, nós reconhecemos a continuidade de todas as circunstâncias, incluindo nossas experiências de amor, que não são apenas por um momento ou por uma vida."
Trinley Norbu Rinpoche
Publicado no Amor, em homenagem ao falecimento de meu Opa - avô alemão de 95 anos que tanto me ensinou, na prática, o amor, o respeito e a união, o agradecer a tudo e em cada detalhe.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Amor - investigação e questionamento
No Amor,
Amor - cura das emoções
No Amor,
O auge é o Amor
O Amor é este gesto de equilíbrio que encontra o caminho entre os extremos da vivência humana.
No Amor,
Amar é viver
No Amor,
Amar é navegar
Amar é navegar seguro pelo oceano das emoções ao encontro do Outro, de Si e do mundo.
No Amor,
Amor - divina inocência
No Amor,
Amor surreal
No Amor,
Amor - consciência edênica
Amor, consciência edênica: cultivo, preservação, sem posse, sem obsessão, com liberdade de expressão e impulso de evolução.
No Amor,
Amor é consciência
Amor é consciência - que se busca explicar, compreender e apreender no cruzamento entre a razão filosófica e a emoção poética, mas que é muito mais algo para se intuir e se fazer ato - e que emana mais facilmente da vacuidade meditativa.
No Amor,
A paradoxal existência do Amor perfeito
E assim, na busca, se vive e realiza o Amor perfeito.
No Amor,
Intuição amorosa
No Amor,
Amor, o quinto elemento
No Amor,
Sobre a intensidade do Amor
No Amor,
domingo, 9 de novembro de 2008
AfilosofiaMOR em revista - Domingo, no JB
Eis a nota sobre este blog que figura na página 40 da revista de Domingo do dia 09 de novembro de 2008, no JB.
Fica a ressalva de que Amor é muito mais que um coração - partido, remendado ou intacto - entre duas pessoas: é a identificação e potencialização do próprio coração - amor próprio - e a universalização do próprio coração - amor altruísta - em direção a toda a vida através do amor absoluto (divino): Eros, Ágape e Philia.
Por isto este ser um blog surgido da busca por mim mesmo, pois só é capaz de amar incondicionalmente o próximo e ir ao encontro do Todo aquele que se ama, sendo que isto não significa narcisismo ou mimo, mas sim um olhar e tratar compassivo e evolutivo sobre seu próprio ser.
Como diria Sêneca: “a filosofia é a ‘arte de viver’; é a aplicação na prática”. Este seleto grupo fez de sua vida tal obra, da arte um viver. E qual melhor arte de viver que Amar: buscar,
Vale ainda ressaltar que sou apenas um aprendiz me pós-graduando, não um mestre em filosofia: isto chega a ser heresia com Heráclito, Parmênedes, Sócrates, Platão, Aristóteles, Spinoza, Kant, Nietzsche, Kirkegaard, Sêneca, Plotino e tantos outros que ofertaram sua sabedoria em forma de palavras para que iniciássemos nossa caminhada de um ponto mais distante da escuridão total da ignorância inicial na qual somos paridos – uma vez que, contudo, somos concebidos em Luz. E o Amor é esta superação na alternância constante do movimento da vida: dia-noite, frio-quente, claro-escuro, etc.
Se somos a raça que domina o mundo, eleita pela razão, sendo esta seu diferencial em relação aos demais seres, porque não potencializar isto?
Por fim, fica o reforço do ponto-de-vista deste blog: do Amor ser a expressão máxima de sabedoria e do amor ao conhecimento – A filosofia MOR.
Fica o agradecimento à jornalista Anna Braile que tratou do tema com carinho e amor, conferindo à nota, além do belo destaque, um título que ficou leve e brincalhão; afinal, por mais séria que seja a pesquisa aqui publicada e meu compromisso nessa busca, o Amor é essa mescla entre o fascínio do compromisso e a beleza do sorriso.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Amor é design
Uns precisam de mais Tempo, outros de mais espaço, mas todos (se) completam.
No Amor,
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Amor é verdade
É a ilusão para quem não é forte o suficiente para dizer e viver a verdade, de enfrentar com cândida abertura o desconhecido em busca da compreensão do Todo, até e principalmente do que lhe for diferente, e ter a pura força do perdão genuíno para aceitar aquilo que lhe é errado e amorosamente construir em conjunto a viabilidade do que é certo, que é a harmonia coletiva da vida cíclica.
Ser honesto com o outro passa primeiramente pela honestidade consigo próprio.
No Amor,
Amor - morte do ego, ressurreição do Ser
No Amor,
Amor, Transformação e União
No Amor,
Ao infinito alcance do Amor
O Amor, essa força que expande nossos limites, cura nossas fraquezas, essa fortaleza de bem-aventurança que nos acompanha em todos os momentos e da qual nos escondemos por tanto tempo com medo de nos perdermos no infinito de suas possibilidades.
Por mais que se limite em uma definição o Ser, aquilo que ele não compreende ainda será muito maior e o Amor possibilita essa entrega confiante em busca da completude de nosso Ser, certo de que haverá retorno, pois esta é a Lei: para toda ação há uma reação.
Se te lanças com abertura e vontade construtiva receberas a reverberação disto mais cedo ou mais tarde. O perseverante - através do Amor - não conhece o Tempo, é o Tempo em si e portanto a tudo vence.
Amor vincit omnia, como diria Virgílio.
No Amor,
Sobre como lidar com a velhice e a morte
Eles partirão.
Por isso, não cultive nada além de um imenso amor e agradecimento por tudo que lhes foi possibilitado ser vivido.
Saboreie cada olhar, cada toque, cada palavra, cada gesto, cada troca.
É o que eu faço com meu 'Opa' ('vô' em alemão) toda vez que estou com ele.
Ao mesmo tempo, vou me preparando para a minha própria velhice e morte.
Com o tempo, virão outras variáveis, como os filhos, netos, ou não, apenas doenças e dores.
Mas é bom já ir se abrindo para o inevitável para encarar tudo com dignidade e assim transcender a dor, o sofrimento e ser soberano de sua existência.
Apenas o Amor pode realizar isto: esta abertura que a tudo conquista, inclusive a eternidade.
Uma qualidade tranquila de entendimento daquilo que tem que ser vivido e a força para que seja vivido da melhor maneira. É explorar o todo potencial dos limites impostos pelo Ser, esse é o amor que nos guia, que nos conduz para o além-morrer.
É Luz que nos esclarece que o contrário de morte não é vida, é nascimento. Esse é o amor, o ciclo do eterno viver.
No Amor,
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Amor – local da segurança, horizonte da liberdade
Amar é não ficar preso e passar a observar sempre as coisas do ângulo mais propício para a superação em respeito equânime a você, ao outro e ao Todo; é cultivar a sensibilidade, o apreço da alma.
Amar é caminhar tranqüilo e certeiro rumo à morte, aproveitando cada respiro de vida, eternizando cada momento.
No Amor,
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Amor - através das palavras, além das palavras
Amor mais que conceito, vivência!
É abrir mão de partes de si e até por inteiro para forjar um conjunto maior. É o abrir mão da pequenês do Ego e das pequenas coisas em prol da grandeza da união e dos objetivos maiores, inerentes ao Amor. Na soma amorosa entre dois indivíduos o resultado é sempre maior que as partes em si.
No Amor cotidiano renovado a cada amanhecer e sustentado a cada respiro,
Amor - Tempo infinito - elo do novo e do velho
O novo não passa a ser velho em um instante e o velho, revisitado não passa a ser novo?
Não é o Tempo um conceito humano e próprio de cada um?
E se velho e novo forem um e a mesma coisa, entrelaçada na espiral cíclica da vida em eterna evolução?
Aí é só não se desgarrar e compreendar como os fios se entrelaçam, seguem e forjam a teia de nossa vida que nos sustenta em nossa evolução.
Eu tento observar minhas dores, do corpo e da alma com a maior serenidade possível. Busco com compaixão entender o motivo de sua existência para de alguma maneira aprender com elas e assim evoluir amorosamente.
Temos sempre vislumbres daquilo que somos em nosso pleno potencial e, ao menos ao que me parece, nosso dever é cultivar nossa essência para alcançar esta plenitude e trazê-la para o plano físico e fazê-la cotidiano e não apenas lampejos do sublime meditativo e transcendental - tornando-nos assim infinitos imortais através da ação amorosa, princípio ordenador do progresso.
No Amor,
Para seguir em frente: Amor
Sabedores de que somos inicialmente animais indefesos diante de nosso instinto e desejos não ficaremos presos ao ego, mas sim conquistaremos aquilo único a ser possível de fato conquistar em vida - e que ninguém poderá nos tirar: a soberania de e sobre si próprio - a liberdade amorosa que abre caminho para o alcance e a vivência de nossa plenitude.
Não se trata desta luta sobre vencer os afetos sem matar os sentimentos, como diria Sêneca?
Somos nossas escolhas, afinal. Que saibamos escolher com amor para Amor nos tornarmos.
No Amor,
Amor e Compaixão - base universal de todo religare
Mas como se completar - ao se unir - se já se está cheio de si mesmo?
Esvaziar-se é o primeiro passo desta prazerosa e necessária jornada - o princípio grego de Kénosis envereda pelo mesmo caminho e confirma os ditos de S.S. o Dalai Lama de que todas as religiões buscam o mesmo.
Ah, se as pessoas tivessem de fato acesso aos ensinamentos e vissem que não é algo de outro mundo, que tudo está em nossa mente e é amparado pelos conhecimentos da filosofia e psicologia.
Somos vacuidade, um sem fim de manifestações a espera da canalização - um infinito presente de possibilidades.
No Amor,
Como ler este blog - Espírito socrático indicado
Ao acessar esteja de fato disposto a amar. A compreender uma outra visão que pode não ser a sua. Tente esquecer-se de tudo – principalmente de si e de suas convicções - e abrir-se por inteiro para receber algo que pode lhe ser diferente – e que pode acabar lhe completando por inteiro. O pré-conceito é o maior obstáculo para o Amor.
Deixe o amor - essa vontade de compreender - auxiliar na abertura e esvaziamento (Kénosis), pois somente assim o verdadeiro Amor reinará.
E unificará corpo, mente e espírito e vivificará suas relações - presentes e futuras.
Portanto, toda base sólida de toda troca proveitosa e sustentável é o diálogo com raízes amorosas - livres e que de tudo se nutrem e a tudo fomentam guiando seu crescimento.
No Amor,
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Amor - o maior conquistador
No Amor,
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Será o Amor o passo para o supra-humano?
Será que o forjar pré-histórico de nossas diferenças socio-culturais-comportamentais que ressaltaram as distintas características biológicas - 1 óvulo X milhões de espermatozóides; produção única X constante produção - nos levaram a maneiras tão discrepantes de amar?
Será que o fato dos homens ficarem à época na caça, fora da caverna, atentos à presa e aos predadores, no misto alerta de medo e coragem de perder o que lhe era precioso - aguçando a visão, audição, faro e instinto 'caçador-matador' - faz com que os homens apenas lidem com o amor como uma mera conquista que resulta em posse? E que tudo se baseia no estímulo visual?
E será que o fato da mulher ficar no escuro da caverna, aguçando-lhe os demais sentidos antes que a visão, conferindo-lhe muito mais valor ao tato, ao olfato e à audição, potencializando sua capacidade de cuidar e deixando-lhe apenas com o medo do não-retorno do companheiro não fazem com que a mulher de hoje - apesar de estar cada vez mais com hábitos masculinos quanto o tocante é o sexo e o amor - ame à sua maneira: mais sentimento - afinal não era a 'perda', era quem perdia o ser amado; mais zelo; mais carinho; mais cuidado; mais calor humano - estava dentro da caverna, enquanto o homem vivia o frio exterior.
Lendo "Assim Falou Zaratustra", de Nietzsche deu-me que o Amor é a chave para o Supra-humano - o nietzschiano 'além-do-homem', comumente traduzido (erroneamente a meu ver) como super-homem e que é uma alusão ao Sol nascente além do horizonte como simbologia para a vitória - e o Supra-humano a realização desse amor, o alcance do divino-humano.
O Amor é o 'Sim' na capacidade do Supra-humano de dizer 'Não' ao "Você tem que": é a verdade e o verdadeiro "Eu quero".
Quando o humano se der conta da plenitude que é Amar universalmente e querer de fato Amar, tornar-se-à Supra-humano. O (verdadeiro) Amor (divino) no humano é o salto do macaco para o Supra-humano.
E o verdadeiro Amor é união e soma dos aprendizados de ambos os representantes da espécie humana, que deveriam amorosamente ensinar um ao outro sua forma de amar e evoluirem cúmplices neste aprendizado. Afinal, Amar também é conhecer, aceitar e aprender o desconhecido. É conquistar e se entregar, é se entregar e conquistar.
O 'lamentável' é que ao invés de se buscar a equiparação sexual nos aspectos positivos do outro, percebe-se uma derrocada do verdadeiro poder feminino que sucumbe quase por completo ao termos nossas mulheres embrutecendo para disputar o espaço que outrora era dos homens.
'Lamentável' entre aspas, pois talvez seja apenas o movimento natural que faça com que os homens - e já há alguns apontando este caminho -assimilem mais as boas características femininas. O movimento seguinte será o da mulher retomando seus valores e ficando com os aspectos positivos do universo masculino, sem se embrutecer.
O Amor unirá as diferenças dentro e fora de cada indivíduo e na sociedade como um todo.
No Amor, o tantra da verdade,
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Amor no infinito de nosso corpo e na eternidade de nosso Ser
Ao se entregar ao Amor, uni-se ao Todo e à todos, pois os sentimentos - alocados na barriga - e os pensamentos - localizados no cérebro - nos diferenciam, por muito distanciam, mas é o Amor o malgma que nos une, nos torna eternos e nos conduz ao infinito e além.
No Amor que forma o laço do infinito em nosso corpo, perpassando e unindo pensamento e sentimentos,
Amar é bombom demais
O verdadeiro amor nunca se desgasta, quanto mais se dá, mais se tem.
No Amor,
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Compaixão em Spinoza: questão de conceito, essência do forte e emancipado
Spinoza faz uma clara e radical opção pelo termo commiseratio (comiseração) - ação de excitar a piedade - em detrimento de compassio (compaixão), em momento algum usado em sua obra – comunhão de sentimentos, sofrimento comum, compaixão, simpatia.
Não deixando dúvidas ao seu leitor, não usou o termo compassio, que poderia levar a um duplo sentido – o de confundir comunhão de sentimentos com o sofrimento (em) comum – e assim ficou livre para estabelecer a diferença entre o commiseratio e o fato de os homens agirem por sua natureza, de maneira virtuosa na preservação do ser zelando por si e pelo próximo em busca de tornarmo-nos uno em mente e corpo, no esforço conjunto da utilidade comum para todos, sendo justos, confiáveis e leais (E4P18E).
Demonstra-se assim a absorção oposta e complementar dos ‘conceitos-na-prática’ da compaixão por budistas e cristãos. Os budistas parecem adotar a compaixão como comunhão de sentimentos, o que não denota em si algo negativo, enquanto a compaixão cristã parece ser entendida pelo senso comum como o sofrimento (em) comum e que assim traz consigo claramente o aspecto da dor (e não necessariamente da solução, salvação) compartilhada – a dor por muito paralisa, apesar de também poder impulsionar, mas o risco de aquele minar este é muito alto de se correr. O termo grego sympathía (simpatia), evidencia, enquanto termos correlatos, o potencial positivo da compaixão.
Para Spinoza o forte e emancipado auxilia – ou deveria auxiliar, melhor dizendo - o próximo não por pena ou por culpa, sentimentos que o fariam se sentir menor em sua potência, mas por acreditar ser correto e assim pensar neste quesito de maneira construtiva, para edificar a solidariedade, a união e, portanto, somar forças e aumentar a potência, sua e coletiva. Spinoza substitui compaixão por ‘aquela atitude de ser justo, honesto e útil com outros homens pelo ditame da Razão’.
Neste sentido é interessante apontar convergências e dissidências entre o ato solidário da virtude elencado por Spinoza e a compaixão cristã, apontada de certa maneira como vício pelo autor, por se tratar muitas vezes de uma estrutura passiva, enquanto o seu entendimento de compaixão passa pelo posicionamento e aplicação ativos.
O resultado prático é o mesmo, mas o princípio norteador difere drasticamente, resultando sim em outro tipo de mobilização e “energia” metafísica, apesar de os atos palpáveis se assemelharem. Em Spinoza há conexão entre os pontos fortes e positivos dos envolvidos, que se solidarizam pela esfera dos valores/recursos. Já no Cristianismo há uma identificação com a dor, com o sofrimento alheio, sendo o ponto-de-contato então a esfera da penúria. Ressalta-se que ambos, com foco e determinação, atingem seus objetivos à sua maneira e à sua esfera.
Vale pontuar aqui a ação compassiva, a nomenclatura e os conceitos budistas. Em termos de nomenclatura o budismo utiliza o mesmo que o cristianismo, compaixão, mas a aplicação prática é mais próxima ao entendimento spinozista de solidariedade, como vimos no terceiro e quarto parágrafos acima.
O budista age.
A compaixão é termo importante dentro da filosofia budista, sendo uma das 4 qualidades incomensuráveis – junto com amor, regozijo e equanimidade. Mas que compaixão é essa?
No budismo ensina-se a identificar o sofrimento, a dor e, conseqüentemente a necessidade alheia, sem contudo se esquecer do potencial daquele indivíduo. Orienta-se a não identificar-se com os aspectos negativos e redutores de potência justamente para se ter força para auxiliar de verdade o próximo a superar seus obstáculos – trabalha-se o não-apego com amor incondicional, resultando em uma boa explicação do que o termo compaixão significa no budismo: Sensibilizar-se com a questão alheia, mas não a ponto de enfraquecer-se ou perder o prumo da razão. Assim consegue-se ter o direcionamento com a força necessária, sendo efetivamente útil.
Isto apenas os fortes e emancipados conseguem; portanto poder-se-ia afirmar tratar-se da precisa união entre o que há de melhor em ambas abordagens: racional-spinozista e sentimental-cristã; a força do primeiro e o direcionamento sensível do segundo.
Apesar de Spinoza ter definido a distinção entre os conceitos e aparentemente ser o elo de união entre as diferenças-complementares das compaixões de budistas e cristãos, como vimos acima, tanto a sua razão quanto o sentimento cristão podem existir sem serem vivenciados; vale lembrar que o budismo confere importante papel à mente e à razão, todavia estas não são totalitárias, necessitam do equilíbrio com o coração e o sentimento para serem colocados em prática e simplesmente fluirem.
O budismo estabelece assim um novo conceito, reconstruindo o conceito compaixão de maneira mais forte e ampla: o budista pensa como Spinoza – neste caso ao menos –, sente como o cristão – sem contudo se identificar –, mas age compaixão – um traço do conceito de interdependência, que nos lembra que estamos todos interconectados com tudo: se agirmos com-paixão, comungaremos de determinado momento e sentimentos, receberemos o retorno daquilo que aplicamos após ter planejado racionalmente; compaixão enquanto não-conceito, vivenciado na prática sustentada pela razão e pelo sentimento.
O budismo busca o não-conceito justamente para poder fazer uso desta arma como um todo e assim atenuar possíveis falhas contidas em duas estruturas estanques e separadas. Como não-conceito entendemos, com o auxílio do livro “A Essência dos ensinamentos de Buda”, do monge vietnamita Thich Nhat Hanh que:
“Praticar é ir além das idéias, para chegar à coisa em si. A não-idéia é o não-conceito. Enquanto houver uma idéia, não haverá realidade nem verdade. A expressão "não-idéia" na verdade significa a não existência de idéias ou de conceitos errôneos. Não significa ausência de atenção plena. Por causa da atenção plena, nós sabemos quando algo está errado e quando algo está certo.”
“Atenção plena nos ajuda a identificar todas as sementes que jazem em nossa consciência armazenadora e regar apenas aquelas que são saudáveis.”
Daí o budista agir, enquanto o cristão sente e o spinozista pensa: o budismo prega a prática no equilíbrio da mente-coração, entre o sentir e o pensar. Mesmo que para Spinoza pensar seja agir, a vivência cotidiana nos comprova que nem sempre ocorre tal transposição. Lao Tse, filósofo chinês, ícone taoísta e influenciador do zen budismo afirmava que “saber e não fazer, ainda é não saber”. Podemos completar o pensamento com a afirmação de que sentir e não fazer, ainda é não sentir.
Pensamentos e sentimentos podem ser destrutivos – apenas a prática transmuta a energia criada e acumulada.
É importante ressaltar as questões semânticas relacionadas aos diversos usos do termo compaixão, bem como a aplicação de cada conceito de acordo com as características culturais. Enquanto no ocidente as paixões são tidas como um entrave ou possível problema para grande parte dos filósofos, que as consideram em grau menor do que a razão e o amor – explicitando-se aqui que para Spinoza, diferente da maioria dos demais filósofos, o amor envolvendo a idéia de uma causa exterior é paixão, o que torna esta afirmação última, no tocante ao amor, inviável –, para os sábios tibetanos, entretanto, as paixões são usadas como meios para a prática, sendo sua energia canalizada e utilizada na evolução pessoal e coletiva.
Já sobre a nomenclatura, vimos no primeiro parágrafo como Spinoza aproxima compaixão de comiseração e elucidamos os possíveis desdobramentos relacionados ao radical da palavra e sua conseqüente compreensão negativa. Mas isso não ocorre apenas na escolha do latim e na interpretação do português. Em alemão a palavra compaixão é muitas vezes traduzida como “Mitleid” cuja tradução ao pé da letra é “sofrer com” e, portanto, se assemelha muito à compreensão cristã do que possa vir a ser compaixão. Para Spinoza deveria ser algo mais para “Mitwachsen”, “crescer com”. Para os budistas, poderia ser “Ohneleid”, “sem sofrer” ou, melhor ainda, “dazu stehen”, “junto de pé”, pois acreditam poder extirpar do próximo toda dor, sem contudo sofrer com isto.
No ocidente – valendo tanto para os cristãos, quanto para Spinoza quando usa o termo commiseratio -, compaixão tem nas palavras “comiseração”, “piedade”, “dó”, “misericórdia” e “pena” seus melhores sinônimos. Já no Tibete, por exemplo, o Buda da Compaixão também é chamado de Buda da Compaixão Infinita, Buda do Amor Infinito, e compaixão denota comunhão de sentimentos. Isto mostra as diferenças de abordagem e, como vimos, uma redefinição de compaixão a partir do ‘conceito-na-prática’ Budista, deixando-o mais forte e amplo.
Fato é que para as 3 linhas de entendimento do que seja compaixão ou o ato de prestar auxílio racionalmente, o resultado é idêntico: capacidade de auxiliar o próximo a cessar o sofrimento e a melhorar. Há certamente uma discrepância na conceituação da palavra, mas não há dúvidas sobre o fato de a erradicação do sofrimento alheio – independente de seu método - só poder ser obra de uma pessoa forte.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
O Amor e o fim do querer viver em Schopenhauer sob uma ótica budista
O fato de não abordar o amor philia, fraterno, altruísta e assexuado, não chega a ser um problema, mas será abordado ao fim deste diálogo como um dos meios para potencializar a compreensão e o próprio uso da veia budista no pensamento ‘schopenhaueriano’, buscando interpretar de maneira mais fidedigna os preceitos tântricos do budismo, vajrayana em especial – talvez resida aqui a fonte de ‘equivocos’ na utilização do budismo como base para o apontamento do niilismo como salvação e redenção em Schopenhauer: aparentemente este se baseou mais no caminho Hinayana, chamado no budismo de ‘veículo pequeno/inferior/menor’ – por se ater à iluminação pessoal/individual - e que visa a libertação e o alcance do Nirvana através da negação e abstinência, notoriamente sendo um compromisso individual e auto-centrado, sem comprometimento direto com os demais seres; além de ter apreendido erroneamente o conceito-base budista de vacuidade como sendo equivalente ao nada niilista, por fim, comprometendo sua solução de negação do querer viver – talvez por não alcançar o divino do próprio ser humano a não ser pelo conceito das palavras e da filosofia. E o divino em nós fala do uno, da manutenção consciente da vida até a iluminação, do não-sofrer no seu caminho (samsara em sânscrito). E ao não se sofrer em seu caminho (samsara) atinge-se a iluminação ao se sair da roda de samsara e se girar a roda do dharma (sua Lei Natural, realidade). Lama Chimed Rizdin afirma que nirvana e samsara são a mesma coisa, projeções de nossa mente dualista.
Uma recomendação dos lamas e dos sutras é a de que pode-se chegar até a outra margem com o barco, mas para se alcançá-la de verdade é necessário abandonar o próprio barco, uma bela metáfora para o desapego, mas também para a própria limitação de Schopenhauer que, pelo que aparentam seus escritos e alguns traços biográficos em desalinho com sua própria filosofia, perdeu-se antes de percorrer o caminho óctuplo e apenas vislumbrou seus degraus, entendendo e repassando duas, das quatro nobres verdades corretamente e fraccionando a terceira, equivocando-se ou ignorando a quarta, uma vez que antes de encontrar a senda do caminho do meio, Buda vivenciou e desaconselhou os caminhos extremos, dentre os quais o ascetismo fora uma das extremidades e sua origem nobre e repleto de desejos e luxos a outra.
Schopenhauer “termina exaltando, em largas páginas, as grandes figuras dos santos cristãos em confusa mescla com os ascetas da Índia”, “o homem que se liberou do Princípio de Individuação, da individualidade fenomênica, e vê a natureza tal qual ela é, não admite mais o consolo da compaixão. Sua vontade se converte, já não se afirma a si mesma, nega sua própria essência da qual o fenômeno não é mais que um espelho. Já não se contenta em amar o próximo, senão que nasce nele um horror ante ao ser do qual é expressão seu próprio fenômeno, ante a vontade de viver, ante ao que é nuclear e essencial do mundo, que considera como um tormento. Renega desta maneira que se manifesta na forma corporal, e todos os seus atos se põe em contradição com ele. Cessa de querer coisa alguma e alimenta em seu coração a indiferença a tudo e por tudo” [2] .
Conjugando os pontos supracitados e os confrontando com o ensinamento budista do caminho óctuplo, bem como com os tantras vajrayanas, que ressaltam os obstáculos como vitais para a prática e não de forma negativa, vislumbra-se outra saída para a negação da vontade universal como cessar da espécie. Enquanto para Schopenhauer o humano é “sacerdote e vítima” [2], onde a salvação depende de sua anulação em vida e aniquilação total com a morte, no ‘grande caminho’ (maha-yana) e ‘caminho do diamante’ (vajrayana) ele se torna um Bodisatva, literalmente um ser de sabedoria (em sânscrito), soldado e protetor da iluminação, que labuta pela liberação de todos os seres renascendo sucessivamente para sensibilizar e esclarecer as pessoas, mostrar-lhes o caminho, sem o qual elas não compreenderão sua natureza.
A dimensão de sacrifício ascético em prol da liberação (do querer viver universal) denota-se extremamente cristão, não tanto carregado e introjetado pela culpa cristã, mas longe do entendimento budista da responsabilidade e compreensão através da sabedoria - para o filósofo o pensamento é a máscara superficial que dissimula a vontade, para o budismo a contemplação (pensar, sentir e intuir) é a via para alcançar a plenitude a partir dos preceitos da motivação pura e da atenção plena que conduzem ao despertar e o asseguram.
Retomando o entendimento ‘schopenhaueriano’ de que não basta cessar o sofrimento de um ser humano, posto que o sofrimento persistirá nos demais, é natural que se chegue à conclusão que apenas os preceitos maha- e vajrayana possam ser parelhos às intenções do autor, uma vez que versam sobre a liberação de todos os seres sencientes – o que engloba não apenas os seres humanos, mas toda a vida; para efeito de foco no estudo, nos ateremos aqui à causa humana, sob a qual também se debruçou Schopenhauer, sem entrar no mérito da identificação do sofrimento nos demais seres ou não, uma vez que este embate leva ao questionamento do princípio vital da filosofia, mas principalmente da solução proposta por Schopenhauer: se o sofrimento cessa com o fim da humanidade - o conhecimento do sofrimento -, posto que não há sofrimento no restante das manifestações da Vontade, ao admitirmos a existência do sofrimento nos demais reinos, levamos o pensamento schopenhaueriano à tolice do extinguir da única saída possível, a conscientização compassiva de nossa espécie e sua vida enraizada na motivação pura e florescida na atenção plena.
Contudo, enveredamos pela escrita do mestre de Danzig com o intuito de trilharmos paralelos e buscarmos convergência em prol do pleno entendimento do caminho de Buda e do engrandecimento daquele que levou o dharma para dentro da filosofia alemã, européia e ocidental e nos abriu assim campo para debatermos inclusive este assunto nestas poucas linhas.
Schopenhauer, tal qual o próprio budismo, é apontado como pessimista por leitores mais apressados. Isto se baseia na premissa budista – e adotada pelo autor como ponto-de-partida para sua filosofia e entendimento de mundo - de que a vida é sofrimento, uma das quatro nobres verdades budistas – a vida é sofrimento; a causa do sofrimento; a extinção da causa do sofrimento; a senda que leva à extinção do sofrimento. Se contemplarmos apenas a primeira nobre verdade, a de que a vida é sofrimento, logicamente afirmaremos que isto se trata de um pensamento e uma constatação pessimistas. Mas se as contemplarmos como um todo, as quatro nobres verdades são um caminho seguro, positivo e crescente para a ascese e o não-sofrimento.
Não entraremos aqui no mérito da dicotomia-base sofrimento-felicidade, posto que são conceitos e não alcançam a realidade última, apenas registraremos, como se faz necessário, que é melhor viver a felicidade que o sofrimento e que para efeito retórico do texto e evolucionista da espécie é muito mais inteligente e lógico se principiar pelo sofrimento para se passar à felicidade do que o contrário, primeiro por ser mais fidedigno à realidade da maioria, segundo por ser um caminho lógico, posto que quem se encontra em felicidade não deveria se preocupar em caminhar rumo ao sofrimento.
Para o autor a felicidade então é não-sofrimento, uma vez que se principia o viver cotidiano neste estado de sofrimento, que no budismo é entendido como enraizado na ignorância, o primeiro dos 12 elos da cadeia de originação interdependente e que culmina na morte. A verdadeira felicidade búdica, contudo, se encontra escondida sob os véus da ignorância dentro de cada ser e tem densidade em si, não apenas refutando aquilo que causa o sofrimento, sendo uma mera negação do mesmo, mas também afirmando as condições e meios para se estabelecer positiva e pró-ativamente o estado da felicidade.
Como alcançar o não-sofrer, a partir do entendimento de Schopenhauer, uma vez que a Vontade encara sempre a frustração - caso não consiga o objeto desejado - ou o tédio - caso consiga alcançar a sua meta. A resposta que emerge é a negação do querer viver, dessa Vontade, desejo-mor. É, portanto, vital se conhecer este querer viver, apoderar-se desta Vontade, deixar-se de ser ignorante quanto à nossa verdadeira realidade (dharma), forjando-se assim a motivação pura de nossa existência, solo fértil no qual se desenvolve o homem renascido como Bodisatva e que se moldará em definitivo através da plena atenção - temos a oportunidade de conscientemente confirmar a graça de nossa existência ou sucumbir cegamente à nossa própria ignorância.
É tênue o equilíbrio entre o entendimento e, principalmente, o controle do impulso sexual, da paixão – amor eros – e o desenvolvimento da compaixão humana-universal – amor ágape. O primeiro nos une à nossa carne, própria e do próximo, o segundo nos une ao todo, ao que é mais elevado, mas o que unirá ambos de natureza tão distinta e que aparentemente não tem interface de diálogo entre si?
Afastamo-nos do palco schopenhaueriano para a entrada em cena do conceito não abordado de philia – amor fraterno, assexuado, altruísta -, possível elo de ligação entre amores, e que no budismo pode ser representado pela sangha, comunidade que aplica na prática a religiosidade – o religare - em busca do aperfeiçoamento e elevação individual e coletiva. Philia, o caminho do meio do amor que confere a força da paixão de eros e a pureza do amor divino aos laços fraternos: vive-se conscientemente não por si, mas pelo outro através da tríade do amor baseado na philia, impulsionado pelo eros – que se eleva - e guiado pela ágape – que se dissemina. Assim fica fácil compreender a certeza de Virgílio – Omnia Vincit Amor -, que ‘o Amor tudo vence’.
Desta maneira consegue-se ultrapassar a vontade de viver e a vontade de morrer, ultrapassando-se o fenômeno e a própria ultrapassagem, chegando-se a fazer tudo com a consciência dhármica: cessa-se o sofrimento do apego e da ignorância que levam à morte e ao sofrimento, passa-se a manifestar as qualidades humanas superiores do Bodisatva, cuja consciência e manifestações atuam preservando e perseverando a vida, com foco na liberação de todos os seres em busca do cessar do sofrimento, sem conceituá-lo e condicioná-lo diretamente à vida no sentido lato senso – uma vez que no stricto senso a vida é sofrimento, como vimos anteriormente.
Há uma alternativa então que expande o entendimento de Schopenhauer e do viver, onde matar o homem através da negação do querer viver não sentencia o fim da espécie e sim afirma as bases para a ‘criação’ de bodisatvas, seres iluminados que se perpetuam para trabalhar pela iluminação dos seres de todos os reinos. Através da ‘morte’ do homem, de seu desapego e aceitação da impermanência dá-se real sentido ao seu caminho, cessa-se o sofrimento, não a vida.
Buda ensinou-nos 84.000 métodos para se alcançar a iluminação, aplicáveis de acordo com o perfil de cada praticante. Repousar tal prática no amor compassivo encurta o caminho sensivelmente. Caminho este que começa no reconhecimento das quatro nobres verdades e adentra o caminho óctuplo de Buda, que dissipa toda dúvida quanto ao sentido do renascimento consciente em prol dos demais seres sencientes.
Mas tudo isto pode também ser um pensamento criado a partir da vontade universal do querer viver, portanto sinta com o coração e intua com a alma, contemple o todo para encontrar a sua verdadeira Vontade, só sua. E de todos nós.
Com agradecimentos especiais à professora Marcia Amaral - do curso de pós-graduação em filosofia do Mosteiro de São Bento/RJ - que me introduziu ao pensamento schopenhaueriano e não apenas avaliou e validou, mas deu importantes diretrizes a este texto.
No Amor,
[1] Wikipedia
[2] Ética em Schopenhauer – Profa. Márcia Amaral
[3] O Mundo como Vontade e Representação
[4] Metafísica do Amor
terça-feira, 22 de julho de 2008
Amor - Alquimia do Ser
No Amor,
Amor é o caminho da transmutação
Amor é a transmutação da paixão em compaixão, é a espiral ascendente-evolutiva que conduz à ascese.
No Amor,
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Nessun Dorma, Amor!
"Ninguém dorme" (Nessun Dorma) quando ama - quer seja porque se nutre e se torna incansável e invencível quando em equilíbrio ou porque o amor mexe conosco e nos deixa inquietos em busca de harmonia quando ainda está por se encontrar e tornar dois entes um terceiro, forjando uma trindade a partir de duas metades que são plenas apenas com o outro; mesmo que nunca incompletas quando sozinhas.
No Amor,
Amor equilibrado, amor na prática
No Amor,
sábado, 12 de julho de 2008
Amor - a oitava superior da realidade
Muitos o buscam fora, poucos o descobrem dentro, mas é inegável que ele a tudo sustenta, a tudo permeia e tudo é - a infinita finitude do Ser e das coisas.
Amor é em última instância estar presente e reconhecer a verdadeira natureza das coisas: é vivenciar a mesma realidade com uma qualidade uma oitava superior.
No amor,
Tempo, Espaço, Conhecimento e Amor
Acrescentaria:
Somos parceiros do amor por meio do sentimento (ágape), da busca (eros) por compreensão e do pleno entendimento e aceitação (philia).
No Amor,
domingo, 6 de julho de 2008
Amor - o caminho secreto da evolução
- Se evolução é expansão, partimos do Eros - interno e primitivo - para a Philia - externa e evoluída; C.Q.D.
- Em todas as religiões que conheço o controle e correta canalização da libido é fator crucial para a elevação e evolução, também aqui a evolução do Eros para a Philia vai contra o fluxo do que chamei de Força Schopenhaueriana (em homenagem ao grande filósofo Arthur que identificou corretamente este 'drive' que nos 'manipula') e, portanto, contra a procriação desordenada (algo positivo tanto para o indivíduo, quanto para a sociedade), C.Q.D.
- Compaixão infinita abarca tanto o Eu, quanto o outro e o Nós - comumente esquece-se no mínimo de um deles: o egoísta do outro, o altruísta de si, a maioria do coletivo que a tudo - não apenas aos humanos - abarca. A esfera representa aqui então o Eu, o outro em mim e a pluralidade da criação presente em nós, que quando amorosamente observados podem levar à harmonização interna, evidenciada e projetada diretamente para as ações exteriores. Esta atenção plena do indivíduo fortalecido - que se torna o observador - tendo em mente o círculo da compaixão e os elementos inerentes a ele possibilitam a manutenção da motivação pura do lema Altiora Semper Petens. Assim conseguimos abarcar através do círculo da compaixão todas as nossas possibilidades, as forças contrárias e o modelo de relação ao mundo exterior - a compreensão e o correto uso do círculo da compaixão pertence aos fortes e emancipados (em relação às suas forças contrárias internas e às forças externas, de outrem ou do meio); C.Q.D.
- Santo Agostinho poderia encaixar sua ordenação da seguinte maneira: o Amor a si (Eros), o Amor ao Outro (Philia), o Amor à criação (Ágape) - o que resulta em uma interpretação dúbia de amor incondicional à tudo, à criação, o que por esse lado fecha com a teoria agostiniana, mas também pode levar à interpretação de que Deus é uma criação humana, o que de fato não se enquadra na visão do Santo Filósofo. Contudo, se entendermos que o que conhecemos do Infinito faz parte de nossa concepção finita, explica-se como Ágape pode ser nossa concepção do divino, a projeção divina sobre nós, sendo Deus em si o observador/círculo da compaixão, que nos confere os meios hábeis para nossa evolução: tanto a Força impulsiva (Eros), quanto a Força repulsiva (F.S.), o círculo/mandala no qual tudo se erige e a Luz da sabedoria - acessível com certo esforço, que é o ato de canalizar a libido para fins superiores, levando Eros a sair da relação de confronto com a Força Schopenhaueriana e alçar vôos mais elevados ao se relacionar com Ágape, transmutando Eros para Philia através do Amor Ágape, do caminho percorrido, da verdade descoberta, da vida vivida; C.Q.D.
- Apenas no equilíbrio de cada uma das forças envolvidas é que se possibilita por um lado sublimar a Força Schopenhaueriana, por outro edificar tal pirâmide de maneira sustentável, sendo o objetivo final a recondução da Força Schopenhaueriana para Eros recanalizar e subverter novamente, até se pacificar tal energia contrária levando a uma fluidez e equilíbrio harmônico; C.Q.D.
Dos pressupostos
- No sentido estrito somos desejo puro, primitivo, Eros, que veio através da Ágape evoluir para Philia, transmutando energia - Força e Luz - através da Sabedoria; no sentido amplo somos a conjunção destas 3 esferas (Eros, Ágape e Philia)
- Externo, Interno e Secreto são terminologias budistas que ousei adotar livremente, pois me fazem bastante sentido neste contexto e auxiliam em uma convergência de visões entre ocidente e oriente
- Motivação Pura e Atenção Plena são igualmente terminologias budistas ligadas diretamente à meditação que deve ser uma constante em nossas vidas e que se aplicam corretamente neste mosaico
- Círculo da compaixão é a compreensão intelectual desse esforço (conatus) evolutivo que abarca tanto o entendimento da relação das forças, quanto a não-identificação e desapego aos fatores individuais, gerando o observador onipotente que consegue identificar as questões, mas não se envolver, possibilitando um auxílio útil caso necessário. Procurei mesclar aqui o conceito cristão de compaixão - o compadecer -, o de Baruch Spinoza - compaixão como a atitude de ser justo, honesto e útil com outros homens pelo ditame da Razão - na busca por ocidentalizar minha compreensão da compaixão budista que a meu ver é a justa medida das melhores partes de ambos os conceitos retrocitados.
- Cada Ser tem seu círculo de compaixão e o Todo é formado por um mosaico coletivo Uno a partir destas esferas individuais, sendo um observador para cada Ser - o Eu Superior - e um Observador, o Nós Superior, D.E.U.S. - Domínio Equanime na União dos Seres.
- Parto do pressuposto que Deus é Amor, Compaixão Infinita tal qual está na encíclica de Bento XVI, tal qual está na bíblia, tal qual é declamado pelos Sufis do Islã e de maneira similar por todas as grandes religiões do mundo, quer elas tenham Deus como sendo o criador, co-existente ao Universo, monoteístas ou politeístas; não me obrigo aqui, tampouco em minha vida pessoal a determinar isto. Nossa compreensão finita não alcança o infinito de Sua existência; vislumbramos a magnitude do infinito apenas através da vivência da fé. E se ele não existir, tanto faz eu me indagar ou não quanto a ele. Se Ele existir de maneira absoluta e criadora, sua grandeza e compaixão não o deixarão em absoluto se sentir ofendido com minhas indagações em uma busca sincera e amorosa por realizar em mim a imagem d´Ele. Ou simplesmente evoluir de animal-humano para humano-divino. Afinal, não fomos feitos à Sua imagem e semelhança? Não temos todos a essência iluminada, a centelha divina?
Amor, maior religare de todos, nosso caminho secreto para a iluminação/evolução.
No Amor, no caminho, na verdade e na vida,
Amor "orgânico"
Mas estas linhas não versam sobre outro tópico senão a representação do quão essencial o Amor é para o ser humano: e isto na forma de órgão-porta-voz.
Comumente representado pelo coração, responsável pelo bombeamento do sangue por todo nosso corpo e o que consequentemente nos vivifica, há desde os gregos um questionamento sobre se outras partes do corpo não seriam dignas de tais honrarias de serem representantes do maior e mais nobres dos sentimentos.
Fígado - responsável por metabolizar as substâncias no organismo tem a seu favor a característica amorosa da transmutação - e não é o Amor o maior dos transmutadores? Cabe a ele também a produção do Fel, que deixa aquele gosto amargo em nossa boca - da mesma maneira que o amor o faz quando se parte em dor e se despedaça em ilusão.
Rins - o filtro do organismo, tal qual o Amor é o filtro da alma. Se não filtrarem o corpo pára. Se não amarmos a alma deixa de ascender, pois fica pesada.
Derme - a pele ajuda na respiração do corpo e, principalmente, na sensibilidade e sensações. Amar nos traz novos ares, respiramos mais leves e sentimos mais - com mais intensidade e melhor qualidade, revelando o nosso melhor lado.
Órgãos reprodutores - a obviedade me obriga a poupar palavras e a apenas reforçar que apenas o Amor crea (creação é a divina, que se origina do nada; criação aquilo que se origina de elementos pré-existentes) de verdade, dando, recebendo, concebendo em conjunto.
Contudo, defendem os 'pró-coração', é nele que reside a fagulha divina - fato comprovado em estudos científicos que identificam a existência de células/átomos de composição levemente alterada no centro do coração - confesso que careço de fontes, mas prometo pesquisar para trazer este dado. Aceito contribuições neste sentido.
Por fim, tendencio a uma solução mais ampla: a de que o coração e o sangue são os representantes do Amor, mas também todos os demais órgãos, cada um a sua maneira.
O que parece uma resposta diplomática ou indecisa reforça apenas o entendimento de amor nas 3 esferas e onipresente, sendo emanado/bombeado por um centro (amante/coração) que se relaciona e envolve/irriga (amor/sangue) com algo externo (amado/órgão) - a natureza deste relacionamento dependerá de variáveis presentes nestas 3 esferas, notoriamente da qualidade do amado órgão, mas, acima de tudo, da capacidade ímpar do coração de bombear sem distinção, amando equanimemente à todos com quem se relaciona e deixando o (sangue) amor fluir.
Pode-se ainda buscar correlacionar o sangue ao Eros, pois é o desejo, aquele impulso que vai até o objeto desejado; daí também a máxima "da cor da paixão". A relação com o amado órgão poderia ser analisada como philia, aquela parceria e amizade que respeita as diferenças e se forja positivamente a cada contato. O coração em si pode ser analisado como philia, o amor incondicional ou voltado a uma determinada atividade: disseminar equanimemente o impulso da cooperação amorosa por todo o corpo.
No Amor em seu coração, veias e em cada órgão, exalando amorosidade,
sábado, 5 de julho de 2008
Ame por 3 - por sí, pelo outro, pela relação!
Ame a si mesmo sem limites, assim você poderá amar ao próximo com a mesma generosidade.
Ame a vida, berço amoroso que possibilita esses 3 amores - eros, ágape, philia.
SAN
K1
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Fraternidade - a sociedade do Amor - a sociedade auto-sustentável
As palavras de ordem da Revolução Francesa - longe de serem algo pequeno burguês como os objetivos mais imediatos da mesma revolução - ecoam ainda na mente-coração de todos. Mesmo os iletrados têm em si tais ideais, pois estes fazem parte da essência humana.
Aplicados como sistemas sócio-político-ecônomico-culturais e de pensamento, deram frutos que todos conhecemos: da Liberdade cunha-se o capitalismo; da Igualdade o socialismo/comunismo. Alguns ousam criar paralelos entre a Fraternidade e a Anarquia - aqui compreendido como ausência de coerção, e não ausência de ordem.
Todavia, me parece que a Fraternidade não é algo que possa se impor como sistema, deve nascer no coração de cada pilar da sociedade, de cada indivíduo - até aí estando em alinho com o ideário anarquista.
Acima de tudo não pode desprezar o que for humano, sem julgamento, mas sim com o encaminhamento para sedimentar tudo em uma organização não-hierárquica, mas em formato de mandala, onde a sequência do encadeamento dos fatores auxilia o bom funcionamento e não interesses ou valorizações particulares.
Deve abarcar - e aí é que se distingüe do anarquismo -, as conquistas tanto do capitalismo, quanto do socialismo/comunismo, tomando para si o melhor de cada caminho para forjar a terceira via - o desejo (eros) de um, a compaixão (philia) de outro; estabelece-se mais um paralelo entre as tríades, criando o caminho do meio, que é o amor.
Pois é resolvendo o homem que se resolve a sociedade - o inverso também é possível e me parece que o melhor mesmo é um movimento mútuo convergindo ao centro, já que em nossa sociedade não se deixa espaço para nossa essência respirar: desde cedo, ainda crianças, somos forçados a frequentar cursos com o receio de não nos formarmos, de não sermos economicamente viáveis.
Sufoca-se assim a individualidade e o auto-desenvolvimento. Passa-se até uma vida inteira sem se reconhecer a si mesmo, em um constante agradar e se adequar à sociedade. Deve-se então trabalhar individualmente sua própria evolução meditativa e coletivamente para se conseguir espaços para mais pessoas terem a mesma oportunidade.
Mas o que é esta sociedade senão uma construção coletiva de indivíduos. Há de se construí-la então em bases amorosas - não competitivas e exploradoras: uma sociedade que dá mais que exige. E naturalmente receberá de volta toda a grandeza de experiência humana.
Uma sociedade onde há campo fértil para o desenvolvimento humano e o florescimento do Amor.
Diferente da sociedade em que vivemos, resultado do Iluminismo, que manteve a Liberdade e a Igualdade, mas substituiu a Fraternidade pelo Progresso em seu lema.
Fica no ar a dúvida se os esclarecidos pensadores, como um todo, não viam a compatibilidade entre a Fraternidade e o Progresso, pois de todos os iluministas, os alemães eram os únicos que majoritariamente tinham verdadeira aspiração também religiosa e buscavam a reforma da religiosidade - mesmo com toda defesa da razão (até porque não vejo incongruência entre a fé e a razão). Imagino que não desatrelassem progresso de fraternidade, não seria racional.
Acredito muito mais no mau uso e má interpretação, sempre realizada de maneira conveniente às paixões pelos escravos de seus próprios desejos, que se 'esquecem' e cegam perante à desordem mundial na qual nos encontramos.
Por tudo isto, creio que o desenvolvimento sustentável de nosso planeta passe pelo desenvolvimento sustentável do indivíduo, que se espelhará no desenvolvimento sustentável da sociedade e assim da economia e da ecologia como um todo.
Amor, apenas Ele, é Ordem e Progresso, é desenvolvimento sustentável.
Fors fortuna in Amor (Boa Sorte no Amor)
Energizando-se: reconhecendo o impulso, identificando a motivação
Reconhecer o impulso em cada ato - o que nos motiva - é fundamental para sermos verdadeiros para conosco e com o próximo.
A verdadeira motivação, a motivação pura é o Amor, que dá sem nada esperar em troca, que dá pelo prazer de reconhecer a felicidade genuína alheia.
Identificar a motivação é quase tão difícil quanto reconhecer o impulso, pois são faces da mesma moeda: um origina o outro, sendo a motivação o berço para o impulso - por muito se confundem e não se deve se prendera isto.
Deve-se ir além, pois é claro que a motivação do ego resultado em um impulso tão forte quanto baixo, com pouca clareza, confuso, que por muito nos prende a sí próprio, tornando-nos reféns de nosso próprio desejo.
A motivação pura, surgida do Amor, que é o Amor em si, é clara, transparente, auto-liberada e auto-esclarecida. É aquela certeza que emana de nosso interior e a qual não se prende, a qual se é.
Cada qual deve criar seu próprio método de identificação, sendo a meditação constante, ativa e passiva - parando-se para meditar/orar e mantendo a atenção plena -, um pré-sistema a ser usado por todos.
Refiro-me aqui se a pessoa busca identificar primeiro a motivação ou primeiro reconhecer o impulso; cada um terá a sua facilidade, porém apenas a base meditativa lhe conferirá a força e a clareza (Luz) necessárias para empreender o esforço da identificação e reconhecimento.
E não é isto a energia: Força e Luz? Força para transpor, Luz para guiar - Amar para libertar?
No Amor,
Missão amorosa
- Sublimar as paixões e se entregar ao conhecimento de nossa natureza amorosa.
O Amor é mais que uma emoção, é o equilíbrio entre corpo-fala-mente, corpo-mente-espírito - que muitos confundem com a torpez da findável paixão e que cega os demais sentidos.
E, segundo Santo Agostinho, para quem amor é desejo e assim deve se dirigir a algo - mesmo pensamento compartilhado por Lama Tsering Everest, para quem Amor apenas se dá -, é o Amor que permite conhecer, pois é Ele o impulso (desejo) para e pelo o outro.
Neste sentido, o Amor próprio - auto-estima - é a chave para se unificar a compreensão de sua pluralidade, o que lhe tornará Uno.
- Escapar das teias de ilusão, levantar-lhe os véus e entregar-se cegamente ao Amor.
- Intuir, ao escutar de sua diposição interior, seu caminho evolutivo.
É a Salvação, que segundo Spinoza, é a felicidade aqui, é não estar sujeito às paixões, é ser agente, não passivo, é ter conhecimento e agir de acordo com.
E o único e verdadeiro conhecimento, eterno, se encontra no âmago de seu Ser, selado em seu coração. Só você tem acesso a Ele, ao seu Eu divino, o caminho para seu Eu Superior, o mapa do caminho, o livro da Verdade, a história de sua Vida.
Medite no Amor,
O Amor verdadeiro principia na Auto-Estima, a evolução do Ser
Nossa evolução passa por este estágio de imaginação, racionalização e intuição para a concretude da estabilização de nosso Ser - evoluimos de uma projeção do amor materno em cujo líquido amniótico nos sentiamos seguros, plenos e amados, depositando tais sensações no campo exterior enquanto ainda indefesos e sem independência, para o desprendimento destas memórias intra-uterinas na busca pela expansão de nosso ser, cuja área de influência deve abarcar necessariamente a fonte desta satisfação, possibilitando-nos a interagir com o mundo como senhores de nós mesmos e não escravos das situações. Ou como vimos há dois posts, lidarmos com o amor como Imperadores e não como pedintes.
Quando se comenta que existem poucos 'adultos-de-fato' na face da terra, penso que deva estar falando neste sentido, sobre aqueles que sabem ou não lidar com suas emoções e harmonizar suas energias.
Portanto, nossa jornada encarnados é a jornada amorosa do desenvolvimento do Ser, o amadurecimento de nossas relações externas, internas e secretas na valorização de nossa riqueza interior, o diferencial da raça humana: a capacidade de amar incondicionalmente.
Evoluindo no Amor,
Amar é compartilhar, meditar o caminho
O terceiro centro criou a abundância de amor. Ao atingir, pela meditação, o terceiro centro, você se tornou tão transbordante de amor, de compaixão, que você quer compartilhar. Isso vem a acontecer no quarto centro -- o coração.
É por isso que mesmo na vida mundana as pessoas dizem que o amor vem do coração. Para elas, entretanto, isso é apenas um papaguear, um falar por ouvir dizer; elas de fato não conhecem, porque nunca chegaram ao seu próprio coração. Mas o meditador, finalmente, chega ao coração.
À medida que ele chega ao âmago do seu ser -- o terceiro centro -- de repente acontece uma explosão de amor, de compaixão, alegria, bem-aventurança e de êxtases, e com uma tal força que atinge o coração, e abre o coração.
O coração encontra-se exatamente no meio de todos os seus sete centros -- três ficam abaixo, os outros três ficam acima.
Você chegou exatamente no meio."
Osho - The Search: Talks on the Ten Bulls of Zen Chapter2
O Amor para Osho
O sexo encontra-se abaixo do amor, a compaixão está acima dele; o amor fica exatamente no meio. Bem pouca gente sabe o que é o amor. Noventa e nove por cento das pessoas, infelizmente, pensa que sexualidade é amor -- não é. A sexualidade é por demais animal; certamente, ela contém o potencial para transformar-se em amor, mas ainda não é amor, apenas potencial...
Se você se tornar consciente e alerta, meditativo, então o sexo poderá ser transformado em amor. E se a sua atitude meditativa tornar-se total, absoluta, o amor poderá ser transformado em compaixão.
O sexo é a semente, o amor é a flor, compaixão é a fragrância. Buda definiu a compaixão como sendo "amor mais meditação".
Quando o seu amor não é apenas um desejo pelo outro, quando o seu amor não é apenas uma necessidade, quando o seu amor é um compartilhar, quando seu amor não é de um pedinte, mas de um imperador, quando o seu amor não está pedindo nada em troca, mas está pronto para dar apenas -- dar só pela total alegria de dar --, então, acrescente a meditação a ele, e a pura fragrância é exalada.
Isso é compaixão; compaixão é o fenômeno mais elevado."
Osho - Zen, Zest, Zip, Zap and Zing Chapter 3
Porque é de nossa natureza amar - a Lenda do Monge e do Escorpião
E é ao pacificar nossa turbulência interior que acessamos nossa verdadeira natureza, sem nos deixar mais abalar por eventos externos. Quando esta força da disposição interior brota e persiste, o Amor é declarado vencedor e tornamo-nos imperturbáveis, oásis de refúgio e abrigo da eternidade. Assim surge e se mantém a verdadeira natureza, eterna.
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A Lenda do Monge e do Escorpião
"Monge e discípulos iam por um estrada e, passando por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora, o bichinho o picou e, devido à dor, o homem deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem tomou um ramo de árvore, adiantou-se outra vez a correr pela margem, entrou no rio, colheu o escorpião e o salvou.
Voltou o monge e juntou-se aos discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
- Mestre deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!
O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu:
- "Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha."
(Autor Desconhecido)
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O único ser na face da Terra que tem esta capacidade de não reagir, mas agir conforme sua verdadeira natureza é o Ser humano. Em um mundo onde se ressalta cada vez mais a necessidade da otimização dos recursos e exaltação dos diferenciais, estranha-me o fato de não colocarmos este grande diferencial humano em prática: Amar e cuidar.
A esta moral, agregaria o adendo de que o planejamento sempre auxilia, pois analisando-se as naturezas e conjunturas, poder-se-ia cogitar tal reação do escorpião e poder-se-ia antecipar-se a tal desdobramento.
Às vezes, simplesmente não dá tempo de planejarmos, como penso ter sido o caso desta lenda. Mais um motivo para se reforçar o amor e ficar-se firme em sua essência ao invés de abrir mão de sua natureza no primeiro obstáculo.
Quantas vezes não acontece isto em nosso cotidiano. Pensamos estar agindo com o coração, mas ao primeiro sinal de um viés, retrocedemos e nos fechamos em copas. Será que estavamos mesmo munidos das cartas certas ou jogavamos com as espadas do ego?
Quando se está ancorado 'aos princípios luminosos do coração' - como diria Mestre Céleus em texto enviado por minha querida Tia - 'que vibram o impulso que vai além da auto-satisfação' compartilhamos e manifestamos uma 'capacidade ilimitada de amar'. Como diria Rainer Maria Rilke, 'onde não havia mais caminhos, nós voamos'. Dentro deste contexto completaria dizendo que onde não havia mais caminhos, nós amamos, ancorados na solidez do coração compassivo, atingimos a liberdade eterna.
E é este o diferencial humano. Como diria Lama Tsering: "a qualidade do ser humano é de que ele pode, de verdade, aspirar, desejar e trabalhar pela felicidade alheia".
Reforcemos nosso diferencial, lapidemos nossa jóia preciosa em nosso trabalho cotidiano. Façamo-na brilhar, pois Amor se dá, não se pede ou recebe - volta naturalmente com o ciclo da vida.
No Amor,
sexta-feira, 27 de junho de 2008
No ritmo do Amor
Não precisa entender a letra para sentir algo muito bom emanando de cada nota dessa música de incomum doçura.
E não é que uma tradução que chegou até a mim comprova que a abertura que a música provoca em nosso coração, esse sorriso largo que se abre em nosso peito tem fundamento?
A música é M´Bife (eu te amo), da dupla de cantores cegos de Mali Amadou & Mariam - casal que se conheceu no Instituto para Jovens Cegos de Mali e descobriu o gosto mútuo pela música e um pelo outro - é apaixonante, não concordam?
Pesquei duas citações de exemplo da tradução para o francês:
Chéri né bifé (Né bifé = M'bifé=je t'aime)
Jarabi M'bifé (jarabi=passion=mon amour?)
Que esse mantra franco-africano ecoe e lhe faça sorrir por todo o final de semana e em diante.
En bifé,
O Amor é auto-sustentável
Mas o Amor é assim auto-sustentável: sem necessidade de se explicar, justificar, ter utilidade ou não.
Tal qual a filosofia é caminho para a sabedoria, mas não a sabedoria em si, o amor que vivemos é a busca desse Amor maior, transcendente e imanente ao mesmo tempo. É viver o milagre da fé e utopia, aproximando-se destes e elevando o nível vibracional da realidade.
Os 3 estágios do Amor levam à outra margem do Amor universal, tal qual a filosofia e a meditação nos conduzem à sabedoria.
Eros é o impulso, a força que nos conduz pelo rio da vida. Ágape a direção que nos conduz e orienta. Philia o desembarque seguro do outro lado.
Amor é esse caminho que vence o Tempo e o Espaço e nos torna unos com o Todo.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
O Amor é a saída para um planeta sustentável
No Amor,
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Love hurts
Amor humano machuca, Amor divino cura e redime. Eros é esta ligação que tanto impulsiona para um, quanto para outro, é a força que necessita de Luz para se guiar corretamente. E a Luz se encontra em nossos corações.
No amor,
terça-feira, 24 de junho de 2008
O poema é a oração da alma
não aprisiona, liberta,
não engrandece ou apequena,
desperta,
fonema.
No amor, a fé da alma,
Amor - ponte entre mundos, completude humana
O amor é esse caminho que une os 3 pontos: o Eu, o Outro e o Nós; o Corpo, a Fala e a Mente; o Pensamento, a Fala e a Ação; os Extremos e o Meio; o Passado, o Futuro e o que se faz Presente.
Entre a filosofia - contemplação ativa - e a meditação - contemplação passiva, o amor é essa passividade dinânimica que nos une e o dinamismo passivo que nos impulsiona ao ato de viver que em sua essência é amor.
No amor,
Ética do Amor
O Amor une e liga sob base ética - a única maneira de se ligar opostos, complementares ou não.
No amor,
Amor RUMInante
Somos o tesouro do espírito
somos a alma do mundo,
livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos
do tempo nem do espaço
nem mesmo da terra em que pisamos.
No amor fomos gerados,
no amor nascemos.
Rumi - final do Sama III/IV
No amor,
Amor em Pessoa, Fernando
O amor quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer...
Ah! Mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...
No amor,
Amor para Rumi
A meta do amor é voar até o firmamento, a do intelecto, desvendar as leis e o mundo. Para além das causas estão os mistérios, as maravilhas.
[...]
Ó alma, não cunhes moedas com o ouro das palavras: o buscador é aquele que vai à própria mina de ouro.
[...]
Rumi - Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī
Amor contrastante
O Amor divino ilumina.
Amar é viver esse jogo de contrastes, luzes e sombras - a eterna dança entre o velar e o desvelar iniciada por Eros e Psique.
É uma dança que não pode parar: se pára no velar obscurece, perde-se, desinteressa-se; se pára no desvelar quebra-se o encanto, acostuma-se, assusta-se; em ambos afasta-se e isto é o contrário do Amor - união incondicional.
No amor,
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Amor e Verdade
Compaixão - um ato de Amor
(Chagdud Tulku Rinpoche - fundador do Chagdud Gonpa)
Namo, meu Lama raíz. Obrigado por sua generosidade.
No Amor
Amor – espiral helicoidal ascendente evolutiva
Força Eletromotriz (FÉ) da alma, o Amor é o impulso que nos faz evoluir na espiral da vida, tal qual galgando os degraus da espiral do DNA, em busca de nos tornarmos divinos-humanos. É o coletor de força através da união incondicional motivada pela visão pura que filtra os fenômenos e nos confere acesso ao númeno.
Sentimentos contrários – os chamados venenos da mente - levam à estagnação e até a involução na espiral da vida.
Amar a si próprio, sem egoísmo e egocentrismo, é o primeiro passo para acessar a sabedoria e assim a salvação, de si e do planeta: ter o planeta como meta-mor auxilia na metamorfose pessoal em busca da melhoria individual, pois serve de um estímulo a mais e nos conscientiza de nosso papel e responsabilidade como raça eleita pela razão para conduzir este planeta de maneira sustentável.
No amor,