Nietzsche, no aforismo no.175 de Aurora (livro III), filosofa sobre o 'pensamento básico de uma cultura de mercadores' e aponta a valorização a partir da oferta-e-demanda como o grande vilão do novo século. Como é curto, vale a reprodução, com um breve comentário abaixo.
---175---Aurora---
Vemos agora surgir, de várias maneiras, a cultura de uma sociedade em que o comércio é a alma [...]. O mercador sabe estimar o valor de tudo sem produzi-lo, e estimar-lhe o valor segundo a necessidade dos consumidores, não segundo suas próprias necessidades; 'quem e quantos consomem isto?' é sua grande pergunta. Esse gênero de estimativa ele emprega instintivamente e incessantemente para tudo, também para as realizações da arte e da ciência, dos pensadores, doutores, artistas, estadistas, de povos e partidos, de épocas inteiras: em relação a tudo o que é produzido ele pergunta pela oferta e a demanda, a fim de estabelecer para si o valor de uma coisa.
Isto alçado em caráter de toda uma cultura, pensado com o máximo de amplidão e sutileza, e impondo-se a toda vontade e capacidade: é disso que vocês, homens do próximo século, estarão orgulhosos: se os profetas da classe mercadora tiverem razão em colocá-los na sua posse! Mas eu tenho pouca fé em tais profetas. Credat Judaeus Apella - Non Ego [Creia nisso o judeu Apella - Não Eu] - como diria Horácio.
--------------------
Triste um mundo onde a humanidade não reconhece o valor em si, para si, dentro de si das coisas e do mundo e onde seu referencial é o impermanente e mutável exterior - como se torna refém o terrorista mercador-capitalista, crente que se beneficia e se torna mais livre e senhor da situação por não se ater a um valor em si, mas a lidar de acordo com a "conjuntura reinante".
Há de ser forte para se responsabilizar por seu próprio destino, por determinar seus valores, para ser dono de si mesmo, senhor de sua razão, soberano de sua calma, escravo de seu planejamento, auto-liberado para decidir seus papéis e sua atuação.
Mas para tal é vital se saber de suas necessidades - como se atualmente se chafurda em seus próprios desejos e se afoga nos de outrem, sem sequer saber distingüir o que é o desejo genuíno daquele outro que lhe é introjetado. Afinal, o referencial é sempre exterior, não é?
E a maioria lida como mercador - até com o próprio corpo, com o próprio trabalho então. Vende-se por pouco, afinal, o referencial é externo e a competição é grande.
A vitória contudo - e o real valor - está guardada a sete chaves (sete chácras?) dentro de nós, em nosso coração.
Mais uma vez o amor é a chave-mestre. Amor por si para se valorizar, amor ao outro para respeitar, amor à natureza para preservar e assim, amor pleno, para valor gerar.
No amor