segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Amor e o fim do querer viver em Schopenhauer sob uma ótica budista

O ‘filósofo do amor’, Schopenhauer, versa sobre o tema e sua alcunha tanto em sua “Metafísica do amor”, quanto na obra-prima “O mundo como vontade e representação”; naquela retratando o amor Eros - uma vontade universal que a todos perpassa, guia e impulsiona, travestido de individuação egocêntrica, escrava iludida do querer viver, embalada superficialmente pela consciência -; nesta definindo as bases deste querer viver universal, retratando o amor como impulso sexual cego - garantia da perpetuação da vida -, bem como afirmando sua concepção do mundo como interdependência da vontade universal e da representação individual, por fim lançando as bases e dando contorno ao seu amor puro e último, a compaixão, o amor ágape, “divino, incondicional, com auto-sacrifício ativo, pela vontade e pelo pensamento” [1], que via de regra transmuta o Eu em Nós, tornando-nos uno, mas que em Schopenhauer leva ao fim da espécie pela negação do querer viver da vontade universal, mortificando a existência conscientemente – preceito majoritariamente cristão-católico de difícil compreensão para um budista maha-vajrayana e que será tema do desenrolar deste pensamento consolidado em texto.

O fato de não abordar o amor philia, fraterno, altruísta e assexuado, não chega a ser um problema, mas será abordado ao fim deste diálogo como um dos meios para potencializar a compreensão e o próprio uso da veia budista no pensamento ‘schopenhaueriano’, buscando interpretar de maneira mais fidedigna os preceitos tântricos do budismo, vajrayana em especial – talvez resida aqui a fonte de ‘equivocos’ na utilização do budismo como base para o apontamento do niilismo como salvação e redenção em Schopenhauer: aparentemente este se baseou mais no caminho Hinayana, chamado no budismo de ‘veículo pequeno/inferior/menor’ – por se ater à iluminação pessoal/individual - e que visa a libertação e o alcance do Nirvana através da negação e abstinência, notoriamente sendo um compromisso individual e auto-centrado, sem comprometimento direto com os demais seres; além de ter apreendido erroneamente o conceito-base budista de vacuidade como sendo equivalente ao nada niilista, por fim, comprometendo sua solução de negação do querer viver – talvez por não alcançar o divino do próprio ser humano a não ser pelo conceito das palavras e da filosofia. E o divino em nós fala do uno, da manutenção consciente da vida até a iluminação, do não-sofrer no seu caminho (samsara em sânscrito). E ao não se sofrer em seu caminho (samsara) atinge-se a iluminação ao se sair da roda de samsara e se girar a roda do dharma (sua Lei Natural, realidade). Lama Chimed Rizdin afirma que nirvana e samsara são a mesma coisa, projeções de nossa mente dualista.

Uma recomendação dos lamas e dos sutras é a de que pode-se chegar até a outra margem com o barco, mas para se alcançá-la de verdade é necessário abandonar o próprio barco, uma bela metáfora para o desapego, mas também para a própria limitação de Schopenhauer que, pelo que aparentam seus escritos e alguns traços biográficos em desalinho com sua própria filosofia, perdeu-se antes de percorrer o caminho óctuplo e apenas vislumbrou seus degraus, entendendo e repassando duas, das quatro nobres verdades corretamente e fraccionando a terceira, equivocando-se ou ignorando a quarta, uma vez que antes de encontrar a senda do caminho do meio, Buda vivenciou e desaconselhou os caminhos extremos, dentre os quais o ascetismo fora uma das extremidades e sua origem nobre e repleto de desejos e luxos a outra.

Schopenhauer “termina exaltando, em largas páginas, as grandes figuras dos santos cristãos em confusa mescla com os ascetas da Índia”, “o homem que se liberou do Princípio de Individuação, da individualidade fenomênica, e vê a natureza tal qual ela é, não admite mais o consolo da compaixão. Sua vontade se converte, já não se afirma a si mesma, nega sua própria essência da qual o fenômeno não é mais que um espelho. Já não se contenta em amar o próximo, senão que nasce nele um horror ante ao ser do qual é expressão seu próprio fenômeno, ante a vontade de viver, ante ao que é nuclear e essencial do mundo, que considera como um tormento. Renega desta maneira que se manifesta na forma corporal, e todos os seus atos se põe em contradição com ele. Cessa de querer coisa alguma e alimenta em seu coração a indiferença a tudo e por tudo” [2] .

Conjugando os pontos supracitados e os confrontando com o ensinamento budista do caminho óctuplo, bem como com os tantras vajrayanas, que ressaltam os obstáculos como vitais para a prática e não de forma negativa, vislumbra-se outra saída para a negação da vontade universal como cessar da espécie. Enquanto para Schopenhauer o humano é “sacerdote e vítima” [2], onde a salvação depende de sua anulação em vida e aniquilação total com a morte, no ‘grande caminho’ (maha-yana) e ‘caminho do diamante’ (vajrayana) ele se torna um Bodisatva, literalmente um ser de sabedoria (em sânscrito), soldado e protetor da iluminação, que labuta pela liberação de todos os seres renascendo sucessivamente para sensibilizar e esclarecer as pessoas, mostrar-lhes o caminho, sem o qual elas não compreenderão sua natureza.

A dimensão de sacrifício ascético em prol da liberação (do querer viver universal) denota-se extremamente cristão, não tanto carregado e introjetado pela culpa cristã, mas longe do entendimento budista da responsabilidade e compreensão através da sabedoria - para o filósofo o pensamento é a máscara superficial que dissimula a vontade, para o budismo a contemplação (pensar, sentir e intuir) é a via para alcançar a plenitude a partir dos preceitos da motivação pura e da atenção plena que conduzem ao despertar e o asseguram.

Retomando o entendimento ‘schopenhaueriano’ de que não basta cessar o sofrimento de um ser humano, posto que o sofrimento persistirá nos demais, é natural que se chegue à conclusão que apenas os preceitos maha- e vajrayana possam ser parelhos às intenções do autor, uma vez que versam sobre a liberação de todos os seres sencientes – o que engloba não apenas os seres humanos, mas toda a vida; para efeito de foco no estudo, nos ateremos aqui à causa humana, sob a qual também se debruçou Schopenhauer, sem entrar no mérito da identificação do sofrimento nos demais seres ou não, uma vez que este embate leva ao questionamento do princípio vital da filosofia, mas principalmente da solução proposta por Schopenhauer: se o sofrimento cessa com o fim da humanidade - o conhecimento do sofrimento -, posto que não há sofrimento no restante das manifestações da Vontade, ao admitirmos a existência do sofrimento nos demais reinos, levamos o pensamento schopenhaueriano à tolice do extinguir da única saída possível, a conscientização compassiva de nossa espécie e sua vida enraizada na motivação pura e florescida na atenção plena.

Contudo, enveredamos pela escrita do mestre de Danzig com o intuito de trilharmos paralelos e buscarmos convergência em prol do pleno entendimento do caminho de Buda e do engrandecimento daquele que levou o dharma para dentro da filosofia alemã, européia e ocidental e nos abriu assim campo para debatermos inclusive este assunto nestas poucas linhas.

Schopenhauer, tal qual o próprio budismo, é apontado como pessimista por leitores mais apressados. Isto se baseia na premissa budista – e adotada pelo autor como ponto-de-partida para sua filosofia e entendimento de mundo - de que a vida é sofrimento, uma das quatro nobres verdades budistas – a vida é sofrimento; a causa do sofrimento; a extinção da causa do sofrimento; a senda que leva à extinção do sofrimento. Se contemplarmos apenas a primeira nobre verdade, a de que a vida é sofrimento, logicamente afirmaremos que isto se trata de um pensamento e uma constatação pessimistas. Mas se as contemplarmos como um todo, as quatro nobres verdades são um caminho seguro, positivo e crescente para a ascese e o não-sofrimento.

Não entraremos aqui no mérito da dicotomia-base sofrimento-felicidade, posto que são conceitos e não alcançam a realidade última, apenas registraremos, como se faz necessário, que é melhor viver a felicidade que o sofrimento e que para efeito retórico do texto e evolucionista da espécie é muito mais inteligente e lógico se principiar pelo sofrimento para se passar à felicidade do que o contrário, primeiro por ser mais fidedigno à realidade da maioria, segundo por ser um caminho lógico, posto que quem se encontra em felicidade não deveria se preocupar em caminhar rumo ao sofrimento.

Para o autor a felicidade então é não-sofrimento, uma vez que se principia o viver cotidiano neste estado de sofrimento, que no budismo é entendido como enraizado na ignorância, o primeiro dos 12 elos da cadeia de originação interdependente e que culmina na morte. A verdadeira felicidade búdica, contudo, se encontra escondida sob os véus da ignorância dentro de cada ser e tem densidade em si, não apenas refutando aquilo que causa o sofrimento, sendo uma mera negação do mesmo, mas também afirmando as condições e meios para se estabelecer positiva e pró-ativamente o estado da felicidade.

Como alcançar o não-sofrer, a partir do entendimento de Schopenhauer, uma vez que a Vontade encara sempre a frustração - caso não consiga o objeto desejado - ou o tédio - caso consiga alcançar a sua meta. A resposta que emerge é a negação do querer viver, dessa Vontade, desejo-mor. É, portanto, vital se conhecer este querer viver, apoderar-se desta Vontade, deixar-se de ser ignorante quanto à nossa verdadeira realidade (dharma), forjando-se assim a motivação pura de nossa existência, solo fértil no qual se desenvolve o homem renascido como Bodisatva e que se moldará em definitivo através da plena atenção - temos a oportunidade de conscientemente confirmar a graça de nossa existência ou sucumbir cegamente à nossa própria ignorância.

É tênue o equilíbrio entre o entendimento e, principalmente, o controle do impulso sexual, da paixão – amor eros – e o desenvolvimento da compaixão humana-universal – amor ágape. O primeiro nos une à nossa carne, própria e do próximo, o segundo nos une ao todo, ao que é mais elevado, mas o que unirá ambos de natureza tão distinta e que aparentemente não tem interface de diálogo entre si?

Afastamo-nos do palco schopenhaueriano para a entrada em cena do conceito não abordado de philia – amor fraterno, assexuado, altruísta -, possível elo de ligação entre amores, e que no budismo pode ser representado pela sangha, comunidade que aplica na prática a religiosidade – o religare - em busca do aperfeiçoamento e elevação individual e coletiva. Philia, o caminho do meio do amor que confere a força da paixão de eros e a pureza do amor divino aos laços fraternos: vive-se conscientemente não por si, mas pelo outro através da tríade do amor baseado na philia, impulsionado pelo eros – que se eleva - e guiado pela ágape – que se dissemina. Assim fica fácil compreender a certeza de Virgílio – Omnia Vincit Amor -, que ‘o Amor tudo vence’.

Desta maneira consegue-se ultrapassar a vontade de viver e a vontade de morrer, ultrapassando-se o fenômeno e a própria ultrapassagem, chegando-se a fazer tudo com a consciência dhármica: cessa-se o sofrimento do apego e da ignorância que levam à morte e ao sofrimento, passa-se a manifestar as qualidades humanas superiores do Bodisatva, cuja consciência e manifestações atuam preservando e perseverando a vida, com foco na liberação de todos os seres em busca do cessar do sofrimento, sem conceituá-lo e condicioná-lo diretamente à vida no sentido lato senso – uma vez que no stricto senso a vida é sofrimento, como vimos anteriormente.

Há uma alternativa então que expande o entendimento de Schopenhauer e do viver, onde matar o homem através da negação do querer viver não sentencia o fim da espécie e sim afirma as bases para a ‘criação’ de bodisatvas, seres iluminados que se perpetuam para trabalhar pela iluminação dos seres de todos os reinos. Através da ‘morte’ do homem, de seu desapego e aceitação da impermanência dá-se real sentido ao seu caminho, cessa-se o sofrimento, não a vida.

Buda ensinou-nos 84.000 métodos para se alcançar a iluminação, aplicáveis de acordo com o perfil de cada praticante. Repousar tal prática no amor compassivo encurta o caminho sensivelmente. Caminho este que começa no reconhecimento das quatro nobres verdades e adentra o caminho óctuplo de Buda, que dissipa toda dúvida quanto ao sentido do renascimento consciente em prol dos demais seres sencientes.

Mas tudo isto pode também ser um pensamento criado a partir da vontade universal do querer viver, portanto sinta com o coração e intua com a alma, contemple o todo para encontrar a sua verdadeira Vontade, só sua. E de todos nós.

Com agradecimentos especiais à professora Marcia Amaral - do curso de pós-graduação em filosofia do Mosteiro de São Bento/RJ - que me introduziu ao pensamento schopenhaueriano e não apenas avaliou e validou, mas deu importantes diretrizes a este texto.

No Amor,

[1] Wikipedia
[2] Ética em Schopenhauer – Profa. Márcia Amaral
[3] O Mundo como Vontade e Representação
[4] Metafísica do Amor

terça-feira, 22 de julho de 2008

Amor - Alquimia do Ser

Parte-se do desejo, da paixão, de seu tempo; busca-se o amor, preencher o espaço, o vazio que a tudo abarca para chegar-se à compreensão que nosso desejo se transforma na necessidade da compaixão e esta transmutação de valores, é o amor, o verdadeiro conhecimento, a Alquimia do Ser.

No Amor,

Amor é o caminho da transmutação

Amor ao caminho, Paixão à verdade, Compaixão à vida.

Amor é a transmutação da paixão em compaixão, é a espiral ascendente-evolutiva que conduz à ascese.

No Amor,

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Nessun Dorma, Amor!



"Ninguém dorme" (Nessun Dorma) quando ama - quer seja porque se nutre e se torna incansável e invencível quando em equilíbrio ou porque o amor mexe conosco e nos deixa inquietos em busca de harmonia quando ainda está por se encontrar e tornar dois entes um terceiro, forjando uma trindade a partir de duas metades que são plenas apenas com o outro; mesmo que nunca incompletas quando sozinhas.

No Amor,

Amor equilibrado, amor na prática

Amor não pode ser apenas sentimento, não pode ser somente pensamento, deve ser ato, pensado, sentido, praticado.

No Amor,

sábado, 12 de julho de 2008

Amor - a oitava superior da realidade

Amor - e todo este projeto - é por si só a busca, um questionamento profundo pela disposição interior genuína, um desbravar pela completude, um desejo pelo infinito - essa dimensão do desconhecido.

Muitos o buscam fora, poucos o descobrem dentro, mas é inegável que ele a tudo sustenta, a tudo permeia e tudo é - a infinita finitude do Ser e das coisas.

Amor é em última instância estar presente e reconhecer a verdadeira natureza das coisas: é vivenciar a mesma realidade com uma qualidade uma oitava superior.

No amor,

Tempo, Espaço, Conhecimento e Amor

Somos parceiros do espaço por meio da existência física, parceiros do tempo por meio das ações e parceiros do conhecimento por meio da nossa consciência - Tarthang Tulku Rinpoche

Acrescentaria:

Somos parceiros do amor por meio do sentimento (ágape), da busca (eros) por compreensão e do pleno entendimento e aceitação (philia).

No Amor,

domingo, 6 de julho de 2008

Amor - o caminho secreto da evolução


Deste esquema pode-se ter inúmeras indagações, apontamentos e encaminhamentos. Gostaria de ressaltar um par de coisas para deixar no ar umas e sacramentar outras.

Das demonstrações almejadas
  • Se evolução é expansão, partimos do Eros - interno e primitivo - para a Philia - externa e evoluída; C.Q.D.
  • Em todas as religiões que conheço o controle e correta canalização da libido é fator crucial para a elevação e evolução, também aqui a evolução do Eros para a Philia vai contra o fluxo do que chamei de Força Schopenhaueriana (em homenagem ao grande filósofo Arthur que identificou corretamente este 'drive' que nos 'manipula') e, portanto, contra a procriação desordenada (algo positivo tanto para o indivíduo, quanto para a sociedade), C.Q.D.

  • Compaixão infinita abarca tanto o Eu, quanto o outro e o Nós - comumente esquece-se no mínimo de um deles: o egoísta do outro, o altruísta de si, a maioria do coletivo que a tudo - não apenas aos humanos - abarca. A esfera representa aqui então o Eu, o outro em mim e a pluralidade da criação presente em nós, que quando amorosamente observados podem levar à harmonização interna, evidenciada e projetada diretamente para as ações exteriores. Esta atenção plena do indivíduo fortalecido - que se torna o observador - tendo em mente o círculo da compaixão e os elementos inerentes a ele possibilitam a manutenção da motivação pura do lema Altiora Semper Petens. Assim conseguimos abarcar através do círculo da compaixão todas as nossas possibilidades, as forças contrárias e o modelo de relação ao mundo exterior - a compreensão e o correto uso do círculo da compaixão pertence aos fortes e emancipados (em relação às suas forças contrárias internas e às forças externas, de outrem ou do meio); C.Q.D.

  • Santo Agostinho poderia encaixar sua ordenação da seguinte maneira: o Amor a si (Eros), o Amor ao Outro (Philia), o Amor à criação (Ágape) - o que resulta em uma interpretação dúbia de amor incondicional à tudo, à criação, o que por esse lado fecha com a teoria agostiniana, mas também pode levar à interpretação de que Deus é uma criação humana, o que de fato não se enquadra na visão do Santo Filósofo. Contudo, se entendermos que o que conhecemos do Infinito faz parte de nossa concepção finita, explica-se como Ágape pode ser nossa concepção do divino, a projeção divina sobre nós, sendo Deus em si o observador/círculo da compaixão, que nos confere os meios hábeis para nossa evolução: tanto a Força impulsiva (Eros), quanto a Força repulsiva (F.S.), o círculo/mandala no qual tudo se erige e a Luz da sabedoria - acessível com certo esforço, que é o ato de canalizar a libido para fins superiores, levando Eros a sair da relação de confronto com a Força Schopenhaueriana e alçar vôos mais elevados ao se relacionar com Ágape, transmutando Eros para Philia através do Amor Ágape, do caminho percorrido, da verdade descoberta, da vida vivida; C.Q.D.
  • Apenas no equilíbrio de cada uma das forças envolvidas é que se possibilita por um lado sublimar a Força Schopenhaueriana, por outro edificar tal pirâmide de maneira sustentável, sendo o objetivo final a recondução da Força Schopenhaueriana para Eros recanalizar e subverter novamente, até se pacificar tal energia contrária levando a uma fluidez e equilíbrio harmônico; C.Q.D.

Dos pressupostos

  • No sentido estrito somos desejo puro, primitivo, Eros, que veio através da Ágape evoluir para Philia, transmutando energia - Força e Luz - através da Sabedoria; no sentido amplo somos a conjunção destas 3 esferas (Eros, Ágape e Philia)

  • Externo, Interno e Secreto são terminologias budistas que ousei adotar livremente, pois me fazem bastante sentido neste contexto e auxiliam em uma convergência de visões entre ocidente e oriente

  • Motivação Pura e Atenção Plena são igualmente terminologias budistas ligadas diretamente à meditação que deve ser uma constante em nossas vidas e que se aplicam corretamente neste mosaico

  • Círculo da compaixão é a compreensão intelectual desse esforço (conatus) evolutivo que abarca tanto o entendimento da relação das forças, quanto a não-identificação e desapego aos fatores individuais, gerando o observador onipotente que consegue identificar as questões, mas não se envolver, possibilitando um auxílio útil caso necessário. Procurei mesclar aqui o conceito cristão de compaixão - o compadecer -, o de Baruch Spinoza - compaixão como a atitude de ser justo, honesto e útil com outros homens pelo ditame da Razão - na busca por ocidentalizar minha compreensão da compaixão budista que a meu ver é a justa medida das melhores partes de ambos os conceitos retrocitados.


  • Cada Ser tem seu círculo de compaixão e o Todo é formado por um mosaico coletivo Uno a partir destas esferas individuais, sendo um observador para cada Ser - o Eu Superior - e um Observador, o Nós Superior, D.E.U.S. - Domínio Equanime na União dos Seres.

  • Parto do pressuposto que Deus é Amor, Compaixão Infinita tal qual está na encíclica de Bento XVI, tal qual está na bíblia, tal qual é declamado pelos Sufis do Islã e de maneira similar por todas as grandes religiões do mundo, quer elas tenham Deus como sendo o criador, co-existente ao Universo, monoteístas ou politeístas; não me obrigo aqui, tampouco em minha vida pessoal a determinar isto. Nossa compreensão finita não alcança o infinito de Sua existência; vislumbramos a magnitude do infinito apenas através da vivência da fé. E se ele não existir, tanto faz eu me indagar ou não quanto a ele. Se Ele existir de maneira absoluta e criadora, sua grandeza e compaixão não o deixarão em absoluto se sentir ofendido com minhas indagações em uma busca sincera e amorosa por realizar em mim a imagem d´Ele. Ou simplesmente evoluir de animal-humano para humano-divino. Afinal, não fomos feitos à Sua imagem e semelhança? Não temos todos a essência iluminada, a centelha divina?

Amor, maior religare de todos, nosso caminho secreto para a iluminação/evolução.

No Amor, no caminho, na verdade e na vida,

Amor "orgânico"

Que o amor é algo essencial, que vivifica, suaviza e harmoniza tudo ao seu redor disto ninguém duvida: basta viver um grande amor para fazer desta uma afirmação inquestionável - quanto mais elevado e completo nas 3 esferas (eros, ágape e philia) mais inabalável e durável esse amor será.

Mas estas linhas não versam sobre outro tópico senão a representação do quão essencial o Amor é para o ser humano: e isto na forma de órgão-porta-voz.

Comumente representado pelo coração, responsável pelo bombeamento do sangue por todo nosso corpo e o que consequentemente nos vivifica, há desde os gregos um questionamento sobre se outras partes do corpo não seriam dignas de tais honrarias de serem representantes do maior e mais nobres dos sentimentos.

Fígado - responsável por metabolizar as substâncias no organismo tem a seu favor a característica amorosa da transmutação - e não é o Amor o maior dos transmutadores? Cabe a ele também a produção do Fel, que deixa aquele gosto amargo em nossa boca - da mesma maneira que o amor o faz quando se parte em dor e se despedaça em ilusão.

Rins - o filtro do organismo, tal qual o Amor é o filtro da alma. Se não filtrarem o corpo pára. Se não amarmos a alma deixa de ascender, pois fica pesada.

Derme - a pele ajuda na respiração do corpo e, principalmente, na sensibilidade e sensações. Amar nos traz novos ares, respiramos mais leves e sentimos mais - com mais intensidade e melhor qualidade, revelando o nosso melhor lado.

Órgãos reprodutores - a obviedade me obriga a poupar palavras e a apenas reforçar que apenas o Amor crea (creação é a divina, que se origina do nada; criação aquilo que se origina de elementos pré-existentes) de verdade, dando, recebendo, concebendo em conjunto.

Contudo, defendem os 'pró-coração', é nele que reside a fagulha divina - fato comprovado em estudos científicos que identificam a existência de células/átomos de composição levemente alterada no centro do coração - confesso que careço de fontes, mas prometo pesquisar para trazer este dado. Aceito contribuições neste sentido.

Por fim, tendencio a uma solução mais ampla: a de que o coração e o sangue são os representantes do Amor, mas também todos os demais órgãos, cada um a sua maneira.

O que parece uma resposta diplomática ou indecisa reforça apenas o entendimento de amor nas 3 esferas e onipresente, sendo emanado/bombeado por um centro (amante/coração) que se relaciona e envolve/irriga (amor/sangue) com algo externo (amado/órgão) - a natureza deste relacionamento dependerá de variáveis presentes nestas 3 esferas, notoriamente da qualidade do amado órgão, mas, acima de tudo, da capacidade ímpar do coração de bombear sem distinção, amando equanimemente à todos com quem se relaciona e deixando o (sangue) amor fluir.

Pode-se ainda buscar correlacionar o sangue ao Eros, pois é o desejo, aquele impulso que vai até o objeto desejado; daí também a máxima "da cor da paixão". A relação com o amado órgão poderia ser analisada como philia, aquela parceria e amizade que respeita as diferenças e se forja positivamente a cada contato. O coração em si pode ser analisado como philia, o amor incondicional ou voltado a uma determinada atividade: disseminar equanimemente o impulso da cooperação amorosa por todo o corpo.

No Amor em seu coração, veias e em cada órgão, exalando amorosidade,

sábado, 5 de julho de 2008

Ame por 3 - por sí, pelo outro, pela relação!

Ame, primeiramente à Deus, esse amor em si, essa capacidade (re)generativa que nos possibilita sempre (re)começar.

Ame a si mesmo sem limites, assim você poderá amar ao próximo com a mesma generosidade.

Ame a vida, berço amoroso que possibilita esses 3 amores - eros, ágape, philia.

SAN

K1